Com textos... de Leitura
Artigo de apreciação crítica de A Metamorfose
Gregor Samsa, um caixeiro-viajante, acorda, de manhã, transformado num gigantesco inseto. Não sabe como nem porquê. Aliás, nem sequer reflete muito acerca da sua transformação, resigna-se desde o primeiro instante em que, por capricho do destino, descobre que se havia transformado num ser com “inúmeras patas”. Só sabe que tinha de se levantar da cama (deveras difícil para ele) para ir trabalhar (não era habitual faltar ao dever), já que era o sutento de uma família constituída por si, por sua mãe, seu pai e sua irmã. Porém, a partir do momento em que os seus familiares constatam a sua mudança, Samsa passa a ser renegado por todos, inclusivamente pela irmã, Greta, que sempre o ajudara e apoiara nos tempos mais conturbados. Gregor, cada vez mais inseto (já não fala como humano), deixa, então, de ser um sustento, passando a ser um grande fardo para a sua família, ao qual repugna. Portanto, afastado pelos que lhe eram mais próximos, Samsa vive em reclusão no seu quarto até à morte.
Uma das marcas mais preocupantes desta obra é, seguramente, a primeira frase: “Uma manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto”. De facto, Kafka, o autor, prima por ser muito direto (o mesmo se constata nas primeiras páginas de O Processo), nunca enjeitando a possibilidade de, no princípio dos textos, resumir o ocorrido que dá início ao tema. Mais uma vez, o escritor trata o seu assunto predileto, que surge em quase todos os seus livros: o desespero do Homem face ao absurdo do mundo que, neste caso, ultrapassa o surrealismo.
No entanto, o pormenor que mais me surpreendeu foi a reação (ou falta dela) de Samsa face à sua transformação. Como já referi previamente, a personagem principal não se revolta contra o sucedido. Não, resigna-se, quase nem medita sobre o assunto. O comportamento dos seus familiares também é surpreendente, pelos motivos errados, já que, para além de não o ajudarem a ultrapassar o problema, ainda o hostilizam, renegam-no, principalmente o seu pai (possivelmente Kafka baseou-se na figura paterna, com quem nunca teve uma relação muito afável).
Independentemente de tudo, este livro, uma das obras-primas da literatura alemã do século XX, é perfeitamente aconselhável e interessante, pois possui uma linguagem acessível, não é muito longo e trata de um tema, bem ao estilo kafkiano, que é original e prende a atenção do leitor do princípio ao fim da história.
Fernando Martinho, nº13, 10ºD
EstrelaMar e Golfilhote, de Rosa Quinteiro, com ilustrações de Carlos Pais
Este livro para crianças, com texto de Rosa Quinteiro e ilustrações de Carlos Pais, levou-me ao universo da minha infância e, sobretudo, ao da infância dos meus dois filhos. Voltei a sentir-me a mãe que lia todas as noites (e tardes e dias e dias e noites e noites…) histórias de encantar para embelezar os sonhos e enriquecer a vida dos seus meninos, ciente de que se eu lhes lesse muito, eles iriam ser grandes leitores e…não me enganei muito (por isso, aqui fica o conselho para todos os pais). Já mais crescidos, liamos a oito olhos na cama grande, uma página cada um, nas manhãs em que nos levantávamos mais tarde, por não precisarmos de ir para a Escola…da vida!
Foi com emoção que vi os dois colegas, a Rosa (que foi professora da minha filha e eu sou do filho dela) e o Carlos (que foi meu aluno) apresentarem, pela primeira vez, o seu livro, na minha escola, a de sempre, não sei se para sempre!
A Rosa contou-nos como este livro nasceu da vontade de criar uma história para o seu filho ainda pequeno, mas nós sabemos que ela tem o bichinho da escrita, escreve muito, também poesia, e ficamos à espera do próximo livro. O Carlos mostrou-nos, a mim e a um auditório cheio de meninos e professores, com um cenário trabalhado a rigor, onde o azul e o amarelo davam as mãos à fantasia, como criou os seus desenhos. Magníficos, aliás! Para mim, sem dúvida, as suas melhores ilustrações, e eu gosto de todas, não só por serem dele, que o elevam ao mais alto patamar da ilustração de histórias para crianças, sem bonecos “infatilizantes”, julgando as crianças despidas de sabedoria… Para quando uma exposição?!
O texto é lindíssimo e muito bem escrito e muito bem ilustrado. Perpassa nele a fantasia e a ingenuidade das crianças e, sem dúvida, a meiguice e a sensibilidade dos dois adultos. Perpassa nele a harmonia que nos eleva. A Estrela que veio do céu à procura da realização do sonho de aventuras desconhecidas, sob a proteção vigilante da mãe, estrela lá no alto; o Golfilhote que encontra a doçura da amizade perene… E o mistério instala-se, a estrela vai ficar para sempre no mar de algas verdes e de anémonas sorridentes? Não mais terá saudades do céu, da mãe, das irmãs estrelas? O Golfilhote e a estrela irão namorar e onde vão viver? No céu? Mas no céu não há mar….
Só lendo, meus amigos, descobrirão o fascínio da cor, do brilho que só há no interior de cada um de nós quando sonha e é feliz!
(Para mais informações https://bibliosatao.blogspot.pt/?spref=fb)
Ana Albuquerque
Título: O Perfume – História de um assassino
Título Original: “Das Parfum - Die Geschichte eines Mörders”
Autor: Patrick Süskind
Editora: Editorial Presença
Edição: 18ª – Novembro, 2001
Modo Literário: Narrativo
Patrick Süskind nasceu em Ansbach, Alemanha, a 26 de março de 1949.
Estudou História Moderna e Medieval na Universidade de Munique. A sua obra mais conhecida é esta, O Perfume, que foi um best seller, sendo depois realizado um filme baseado na mesma.
Para além de escritor, é também roteirista de televisão.
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Patrick_S%C3%BCskind, 5 de fevereiro de 2013)
A escolha deste livro foi motivada pelo facto de ter ouvido várias opiniões acerca dele, algumas positivas e outras negativas, devido a ter sido um best seller internacional e, acima de tudo, por já conhecer uma pequena parte do conteúdo que me pareceu ser bastante interessante.
Esta história retrata a vida de um homem cujo nome é Jean-Baptiste Grenouille, nascido em Paris, e que possui um dom especial e único no mundo, o de distinguir todos os cheiros e conseguir guiar-se através deles. Grenouille é bastante peculiar, não só pela sua aptidão mas também pelo facto de ser bastante introvertido, não possuir nenhum odor e ser uma pessoa que não tem qualquer sentimento em relação às outras, interessando-se apenas pelos aromas que exalam.
Por consequência do seu dom e das suas experiências olfativas, Jean ganha uma vontade de criar um perfume melhor do que qualquer outro, um perfume absoluto. Para alcançar o seu objetivo, ele não olha a meios e mata várias jovens para lhes extrair a sua fragrância, de modo a obter os ingredientes necessários para a sua mistura suprema.
Apesar de toda a sua dedicação, quando concretiza o seu propósito fica desiludido e enraivecido com os outros seres humanos pois este perfume faz com que eles fiquem como que hipnotizados e não consigam disfrutar nem compreender a sua grande obra.
Após a leitura desta narrativa, tenho que concordar com as opiniões positivas que ouvira acerca da mesma. Ela retrata-nos uma história que, apesar de sádica e perversa, nos mostra os atos de um ser humano, fora do comum, que age segundo os seus instintos sem ver mal nas suas ações, embora cometa os atos mais atrozes e cruéis. Toda esta história nos é descrita do ponto de vista da personagem principal e faz-nos compreender muito bem a forma como ele vê o mundo, levando-nos a considerá-lo inocente, pois não possui uma total compreensão do que o rodeia.
Recomendo este livro a quem goste de histórias dramáticas e que não seja muito sensível pois é difícil de compreender. A sua leitura é intensa, perturbante e, simultaneamente, envolvente.
Ricardo Manuel Quinteiro Lopes dos Santos
Nº20 10ºC
- Título: A Valsa do Adeus
- Autor: Milan Kundera
- Data de publicação: 1976
- Modo literário: Narrativo
Milan Kundera nasceu a 1 de abril de 1929 em Brno, na Checoslováquia.
Aprendeu a tocar piano, ensinado pelo pai, e estudou musicologia, pelo que várias referências musicais podem ser encontradas nas suas obras.
Vive em França desde 1975, tendo-se tornado um cidadão francês em 1980.
Algumas das suas obras são A Brincadeira (1967), A Insustentável Leveza do Ser (1984), A Imortalidade (1990), O Livro do Riso e do Esquecimento (1978) e A Valsa do Adeus (1976).
Este livro foi-me recomendado por um amigo e, por tal razão, tinha muito boas expectativas em relação ao seu conteúdo. O título tornou-o ainda mais enigmático, pelo que eu não sabia o que esperar.
Ao começar a ler esta obra, considerei-a um pouco aborrecida, pois é-nos descrita uma situação em que um homem casado, revelado como sendo um trompetista famoso de nome Klima, tem uma relação fortuita com uma enfermeira, chamada Ruzena, que trabalha nas termas, engravidando-a. Aí, Klima é enfrentado com um dilema, pois quer urgentemente que Ruzena aborte, mas não sabe como convencê-la, já que ela se opõe totalmente à ideia.
Após ser ajudado pelos seus amigos, especialmente por um ginecologista, o Doutor Skreta, e um americano rico, Bertlef, decide que a única maneira que tem para que Ruzena aborte é iludi-la, demonstrando um amor imenso por ela e, assim, persuadi-la.
Neste ponto da história, são-nos apresentados outros protagonistas, nomeadamente Kamila, a mulher desconfiada e extremamente ciumenta de Klima, Jakub, um amigo do Doutor Skreta, com uma opinião muito peculiar sobre a natalidade, e Olga, uma rapariga, doente, que é tratada pelo Doutor Skreta nas termas e que se encontra à guarda de Jakub, depois do seu pai ter sido morto num caso político em que Jakub esteve envolvido. É também apresentado o namorado neurótico de Ruzena, Frantisek, que desconhece que ela se encontra grávida de outro homem.
A existência de várias discussões filosóficas, tal como a conversa entre Skreta, Bertlef e Jakub sobre a natalidade, ou o argumento entre Olga e Skreta sobre o a genialidade, ou não, de Bertlef, tornaram a leitura desta obra-prima muitíssimo agradável. Por exemplo, ao contrário do esperado, Jakub opõe-se totalmente ao facto de ter filhos, pois considera o processo de educar uma criança criar filhos como pupilos, incumbi-los das nossas ideias e “cortar-lhes as asas”, o que me surpreendeu imenso.
Mais do que uma simples história, esta obra representa uma sucessão de coincidências, de pessoas completamente diferentes que, por mero acaso, se encontraram em torno de um local e de uma gravidez inesperada. Como o título sugere, Milan Kundera orquestra uma “valsa” impressionante, em que as personagens são os intérpretes.
Este autor dá-nos a conhecer as mais catastróficas e belas emoções, tal como o ciúme de Kamila, o amor de Bertlef, em contraste com a traição de Klima, ou a obsessão frenética de Frantisek.
Convido todos os leitores, de qualquer preferência literária, a lerem este empolgante livro para descobrirem o seu desfecho, totalmente inesperado, e para terem o prazer de se sentirem envoltos nesta valsa.
André Oliveira
10ºC, nº3
Apreciação crítica de Os Acusados
No âmbito do projeto de Educação Sexual, visionámos o filme The Accused (Os Acusados), realizado pelo gaulês Jonathan Kaplan e produzido, para a Paramount Pictures, por Stanley R. Jaffe e Sherey Lansing, com banda sonora de Brad Fiedel.
A vencedora de dois Óscares da Academia para melhor atriz, Jodie Foster, (que obteve um pela atuação nesta longa metragem) é Sarah Tobias, uma jovem de classe baixa, consumidora habitual de álcool e droga que é agredida e violada num bar dos subúrbios. Para a ajudar em tribunal é chamada Kathryn Murphy (interpretada por Kelly McGillis), uma advogada bem-sucedida. Se de início a relação entre ambas é marcada por desrespeito mútuo (o que culmina num acordo entre os advogados de acusação e de defesa, para que os condenados não fossem julgados por violação, medida que colide com a vontade da vítima), à medida que o filme avança, estabelece-se uma aproximação, quase familiar, entre as duas. Devido a este clima de simpatia, a advogada, apesar de ter tudo contra si, decide arriscar, levando a tribunal os homens que, alegadamente, incitaram à violação. Mas, agora, ante os juízes, serão Sarah e Kathryn capazes de vencer? Ou será que os réus sairão em liberdade? Algo é certo: não vai querer perder a obra cinematográfica nem por um pequeno instante!
Apreciei muito o filme devido ao desafio entre os advogados de defesa e de acusação. Enquanto a representante de Sarah apela aos sentimentos dos jurados presentes, os advogados de defesa optam por “culpar” a vítima, como se a jovem tivesse provocado a violação de que foi alvo. A forma como o realizador organizou este filme também é interessante, recorrendo à analepse, pois a ação começa com a fuga de Sarah do bar e termina com o esclarecimento do que ocorrera antes da vítima se escapar do estabelecimento.
Em suma, creio que se trata de um bom filme, original, e que retrata exemplarmente os meandros da justiça e os esquemas/negociações pouco ortodoxas que os advogados, em geral, utilizam. Aproveite também para assistir à excelente atuação de Jodie Foster, que se tem demonstrado uma agente muito versátil (já representara uma agente do FBI que se relaciona com um psicopata – O Silêncio dos Inocentes, uma jovem prostituta – Taxi Driver e, agora, interpreta uma rapariga violada que luta por justiça).
Fernando Martinho, 10 D
Apreciação crítica ao filme "O dia em que vieram prender o livro"
Por vezes, de onde menos esperamos, é de onde surgem as lições de vida mais enriquecedoras… Neste pequeno filme que vimos, “O dia em que vieram prender o livro”, consegui retirar ensinamentos muito importantes como a amizade, a persistência, a cooperação e a entreajuda, que vieram a ser a solução do “problema” que surgiu ao longo do filme.
Através deste filme, é possível fazer-se uma crítica à censura e às suas consequências, no entanto, no final do filme é-nos demonstrado o facto de que apesar dos muitos obstáculos que nos possam surgir, cada um de nós terá ou deverá ter a capacidade de os saber gerir e ultrapassar, pois não é a vida que se adapta a nós, mas sim nós que nos devemos adaptar à vida, na maioria das situações. Considero que este filme retrata de uma forma breve e concisa este fenómeno que foi a censura, e como a nossa liberdade poderá levar à censura, por mais contraditório que isto possa parecer. Pegando no exemplo prático retratado, em que o jovem de cor negra pretende que o livro “Huckleberry Finn”, de Mark Twain, seja censurado, por conter expressões racistas, a seu ver.
Na minha opinião, este jovem não se aceitava a si próprio tal como era e queria eliminar aquilo que lhe fazia frente e o incomodava, não se importando com a sua atitude, de limitar a liberdade dos seus colegas lerem o livro.
A filosofia de vida transmitida reflete o mundo de valores atual, em que o egoísmo e o individualismo imperam.
Mariana Cunha
10º B
Manhã Submersa
Vergílio Ferreira
Vergílio Ferreira nasceu em Melo, no concelho de Gouveia na Beira Alta no dia 28 de Janeiro de 1916. Aos 10 anos de idade entra no seminário do Fundão, e é sobre essa vivência que escreve, mais tarde, o romance Manhã Submersa.
Nesse seminário, onde as regras e a austeridade imperavam, os jovens seminaristas eram alvo de censura. Impressionou-me, por exemplo, a que era feita às cartas que escreviam para a família, pois tinham de ser lidas pelos padres para evitar que transmitissem informações inconvenientes, como simplesmente o facto de não gostarem de andar no seminário. Quem o fizesse, ou era maltratado, ou essa carta não era enviada. Os padres não deixavam os rapazes estarem sozinhos nos intervalos, pois temiam que eles começassem a trocar opiniões desfavoráveis, por não gostarem de andar no seminário. Outro aspeto que me chocou neste livro foi ver como os jovens eram proibidos de despertar o desejo da sexualidade e de conhecerem o seu corpo, nem sequer podiam falar nesses assuntos, que para os padres eram considerados pensamentos percaminosos.
Penso que a mensagem que o autor transmite é que devemos opinar sempre sem medo sobre as decisões que vão influenciar a nossa vida, não devemos fazer as coisas porque somos obrigados, mas procurar fazer aquilo que nos faz felizes. E na escolha de uma profissão, devemos ter em conta a vocação e gostar daquilo que vamos fazer (e, mais importante ainda se se escolher ser sacerdote). Mas, na minha opinião, a mensagem mais importante é que não devemos perder tempo na nossa vida a fazer aquilo que não queremos, porque só temos uma vida para viver e temos de a aproveitar.
Cátia Simão
10ºA
As Pequenas Memórias
José Saramago
José Saramago nasceu a 16 de Novembro de 1922, na aldeia de Azinhaga, província do Ribatejo. É filho e neto de camponeses. Os seus pais mudaram-se para Lisboa quando este ainda não tinha completado os seus dois anos de idade. Assim, passou a maior parte da sua vida na capital, embora enquanto criança tenha passado férias na sua aldeia natal.
Ao longo da obra, o autor vai recordando os primeiros quinze anos da sua vida, que englobam a sua infância e também a sua adolescência. O autor retrata as peripécias que viveu em Azinhaga e também em Lisboa. Apesar de ter mudado várias vezes de residência, é da sua terra natal que guarda as melhores recordações, que foram vividas principalmente ao lado dos pais e avós maternos. O autor vai assim relembrando estes tempos e ao longo do livro encontramos algumas vivências caricatas. Por exemplo, conta que quando ainda mal sabia soletrar, ao ler os jornais ia encontrando algumas palavras conhecidas e assim, a certa altura, conseguia construir algumas frases. Dessa forma pôde mostrar aos seus pais, que se riam do facto do filho estar constantemente a olhar para o jornal, que tinha realmente aprendido a ler.
O autor conta também algumas das peripécias que viveu com algumas raparigas, quando, crianças inocentes, tentavam descobrir o que existia no corpo para ser explorado. Fala nas inapagáveis lembranças que ficaram na memória de Domitília e também do próprio autor, quando intimamente satisfizeram a sua curiosidade relativamente aos seus corpos. É também referida a experiencia que teve com uma prima sua, de nome igual ao da sua mãe, Maria da Piedade. Enquanto as ingénuas mães arrumavam a cozinha, os dois, deitados na mesma cama, deram início a uma minuciosa e mútua exploração tátil.
Já no final do livro, fala dos seus avós maternos. Conta um dia em que estava a mudar a palha suja do curral de um porco, começou a chover e assim José Saramago achou por bem proteger-se da chuva e abandonar a tarefa. No entanto, foi impedido pelo seu avô, que lhe disse: “ Trabalho que se começa, acaba-se, a chuva molha, mas ossos não parte”. Assim, o autor terminou a sua tarefa, mesmo todo encharcado e aprendeu uma lição de vida.
Ao escrever este livro, Saramago quis, certamente, mostrar-nos que aquilo que fomos enquanto crianças contribuiu para a construção daquilo que somos hoje como pessoas. A forma como a nossa infância é vivida ajuda na formação da nossa personalidade. Somos seres humanos, logo a maioria das experiências por que passamos ficam guardadas na nossa memória e de certa forma vão também influenciar as decisões que tomaremos futuramente. “Deixa-te levar pala criança que foste”, diz o autor na contracapa.
Todas as aventuras descritas ao longo desta obra são vividas em função da curiosidade de uma criança inocente, que era na altura o autor. Esta é uma das razões que torna este livro tão interessante.
Raquel Costa, 10º B
O Caderno de Maya
Maya Vidal é uma adolescente ex-toxicodependente americana, nascida em Berkeley, na Califórnia, que se deixou levar pelo mundo das drogas e do álcool depois da morte do seu avô, Popo. Durante o seu percurso pelo mundo das drogas, Maya esteve envolvida, ainda que indirectamente, em algumas confusões, e era procurada pelo FBI. A sua avó (Nini) resolveu mandá-la para a sua ilha natal, Chiloé, para junto de um velho amigo, para a manter em segurança. Na despedida, Nini oferece-lhe um caderno para ela escrever, a fim de se entreter na sua estadia na ilha de Chiloé. É neste caderno que Maya relata o seu dia-a-dia na pequena ilha, e liberta todo um passado, e todas as memórias e peripécias da sua feliz infância no seio dos avós. A mãe de Maya abandonou-a quando esta era pequena e só se viram uma única vez quando ela tinha oito anos, porém a sua ausência não deixava um grande vazio no coração de Maya, uma vez que cresceu com todo o amor e proteção dos avós, e por vezes, do seu pai, que era piloto aéreo e não dedicava nem dispunha de muito tempo para a filha. Em Chiloé, Maya encontra a paz, a meditação, o amor, e uma vida completamente diferente daquela que conhecia. Nesta pequena ilha, pôde ter a sua própria experiência de vida num meio pequeno em que todos eram uma família e onde a entreajuda, a amizade e a solidariedade eram o pilar da sobrevivência. Em Chiloé, Maya descobriu muitos segredos por desvendar que envolviam a sua família.
Com personagens carismáticas de carácter muito forte que nos deixam presos e envolvidas na história, este livro conjuga o passado e o presente de Maya de uma forma encantadora, explorando diversos aspectos, como o mundo das drogas, o amor e a guerra, e as diferenças entre os lugares. A história deixa transparecer a facilidade com que se entra no mundo dos vícios e como é difícil largá-lo, a fragilidade e vulnerabilidade humana e, ao mesmo tempo, a capacidade de lutar e recuperar. Tal como qualquer livro que aborde o mundo das drogas e dos vícios, serve para sensibilizar e mostrar, essencialmente aos jovens, como é dura a realidade deste mundo, podendo levar à desmotivação.
A autora, além da sensibilização, deixou-me uma mensagem bastante mais profunda: actualmente quem entra e deseja esse mundo, sabe os riscos que corre e o que essa vida implica, e por isso, quem se deixa envolver pelas drogas e quer que elas façam parte de si, é porque, de certa forma e por algum motivo, quer ficar sujeito a todas as consequências que ele traz.
Isabel Allende (2 de Agosto de 1942), jornalista e escritora chilena, reside atualmente na Califórnia onde ensina literatura. Tem vários livros publicados como: A Casa dos Espíritos (1982), De Amor e de Sombra (1984), Eva Luna (1989), Contos de Eva Luna (1989), O Plano Infinito (1991), Paula (1995), (...) Inés da Minha Alma (2006), A Ilha Debaixo do Mar (2009) , O caderno de Maya (2011). Recebeu inúmeros prémios e distinções, entre os quais: Novela del año (Chile, 1983); Panorama Literário (Chile, 1983); Prémio Nacional de Literatura de Chile (2010);
Ana Rita
10º B